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segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Graça Futura


A gratidão é uma emoção saudável para a adoração, mas é um motivo perigoso para a obediência. Somos ordenados em termos explícitos a sermos agradecidos: “Seja a paz de Cristo o arbitro em vosso coração e sede agradecidos” (Cl 3.15).
“Em tudo daí graças, porque esta é a vontade de Deus em Cristo Jesus para convosco” (1 Ts 5.18). Como podemos não ser agradecidos quando devemos tudo a Deus?
            Mas, no que concerne à obediência, a gratidão é um motivo perigoso. Tende a se expressar em termos de dívida- ou no que às vezes chamo de ética de devedor. Por exemplo: “Veja o quanto Deus tem feito por você. Motivado por gratidão, você não deveria fazer muito por Ele?” Ou: “Devemos a Deus tudo o que temos e somos. O que temos feito por Ele, em retribuição?”
            Encontro, pelo menos, três problemas nesse tipo de motivação. Primeiro, é impossível pagarmos a Deus por toda a graça que Ele nos tem dado. Não podemos nem mesmo começar a pagar-Lhe, visto que Romanos 11.35-36 afirma: “Quem primeiro deu a ele para que lhe venha a ser restituído? [Resposta: ninguém.] Porque dele, e por meio dele, e para ele são todas as coisas. A ele, pois, a glória eternamente”. Não podemos restituir a Deus porque Ele já possui tudo o que temos para lhe dar.
            Segundo, ainda que fossemos bem-sucedidos em compensar a Deus por todas as suas graças para conosco, seríamos bem-sucedidos, apenas em tornar a graça uma transação comercial. Se pudéssemos pagar-Lhe, a graça não seria graça. “Ao que trabalha, o salário não é considerado como favor, e sim como dívida” (Rm 4.4). Se tentássemos negociar com Deus, anularíamos a graça. Se os amigos tentam mostrar-lhe um favor especial, de amor, convidando-o para  jantar, e, ao fim da noite você diz que os recompensará, recebendo-os na próxima semana, você anula a graça de seus amigos e a transforma em comércio. Deus não gosta de ter sua graça anulada. Ele gosta de tê-la glorificada (Ef. 1.6,12,14).
            Terceiro, focalizar a gratidão como um elemento que capacita a obediência tende a menosprezar a importância crucial da graça futura. A gratidão olha para trás, contempla a graça recebida e sente-se grata. A fé olha adiante, vê a graça prometida para o futuro e sente esperança. “A fé é a certeza de coisas que se esperam, a convicção de fatos que se não vêem” (Hb11.11).
            A fé na graça futura é o poder para a obediência que preserva a agradável qualidade da obediência humana. A obediência não consiste em recompensar a Deus e, assim tornar a graça em comércio. A obediência resulta da confiança de que Deus nos dará mais graça—graça futura—e esta confiança magnifica os infinitos recursos do amor e do poder de Deus. “Trabalhei muito mais do que todos eles; todavia, não eu, mas a graça de Deus comigo” (1Co 15.10). A graça que capacitou Paulo a trabalhar muito, em uma vida de obediência, consistia na chegada diária de novos suprimentos de graça. É nisto que a fé confia—a contínua chegada de graça. A fé contempla promessas como: “ O Senhor, teu Deus é contigo por onde quer que andares” (Js 1.9) e, nessa confiança, a fé se aventura, em obediência, a tomar a promessa.
            O papel bíblico da graça passada—especialmente a cruz—é garantir a certeza de graça futura: “Aquele que não poupou o seu próprio filho, antes por todos nós o entregou [graça passada], porventura não nos dará graciosamente com ele todas as coisas [graça futura]?” (Rm 8.32) Confiar na graça futura é a força que capacita a obediência. Quanto mais confiamos na graça futura, tanto mais damos a Deus a oportunidade de mostrar, em nossa vida, a glória de sua inesgotável graça. Portanto, aproprie-se da promessa de graça futura e, com base nessa promessa, pratique um ato de obediência radical. Deus será poderosamente honrado.

 John Piper
 Pastor da Igreja Batista Bethlehem, em Minessota 

Extraído de "Uma vida voltada para Deus" - John Piper, Ed. Fiel, 2007.

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